Campanha Mares Limpos celebra dois anos de atividades contra o lixo plástico
Lançada em fevereiro de 2017, a campanha Mares Limpos, da ONU Meio Ambiente, tem inspirado governos, empresas e cidadãos a se engajar na luta contra os plásticos descartáveis, que ameaçam a saúde dos oceanos, da vida marinha e dos próprios seres humanos.
Setenta e cinco países — da Argentina ao Iêmen — aderiram à iniciativa, comprometendo-se a combater os plásticos descartáveis, proteger suas águas territoriais e encorajar mais reciclagem. Compromissos junto à campanha cobrem mais de 60% dos litorais do mundo.
As remotas Ilhas Galápagos oferecem um lembrete perturbador do poder destrutivo do nosso vício em plástico, com imagens desesperadoras de espécies icônicas se debatendo em meio ao lixo, em faixas litorâneas que foram, por muito tempo, sinônimo de pureza e isolamento.
Mas as célebres ilhas do Equador também são testemunhas do que pode ser conquistado quando a perplexidade é posta a serviço de ações positivas. Esse é o princípio central da campanha Mares Limpos da ONU Meio Ambiente, que tem incentivado comunidades do mundo todo desde o seu lançamento, em fevereiro de 2017.
Setenta e cinco países — da Argentina ao Iêmen — aderiram à iniciativa, comprometendo-se a combater os plásticos descartáveis, proteger suas águas territoriais e encorajar mais reciclagem. A campanha representa hoje a maior aliança global para combater a poluição marinha por plástico, com compromissos que cobrem mais de 60% dos litorais do mundo.
E não foram apenas os governos que subiram a bordo da campanha. De consumidores que recusam produtos sufocados em plástico a blogueiros da internet que inspiram outras pessoas a adotar estilos de vida com lixo zero, o mundo foi tomado por uma mudança de consciência — que está se espalhando por todos os lados.
Mais de 100 mil pessoas assumiram o compromisso Mares Limpos para reduzir a sua pegada de plástico. Muitas usam as hashtags #CleanSeas e #BeatPlasticPollution no Twitter e no Instagram para chamar outros indivíduos a seguir o seu exemplo e abandonar os plásticos descartáveis.
A América Latina e o Caribe estiveram na linha de frente desse movimento global, e o Equador está entre os 17 países da região que aderiram à campanha Mares Limpos.
“Os países e cidadãos da América Latina e Caribe estão dando passos ousados e exemplares para acabar com a poluição plástica e proteger os seus vulneráveis recursos marinhos”, afirma o diretor regional da ONU Meio Ambiente na América Latina e Caribe, Leo Heileman.
“Governos estão regulando os plásticos descartáveis por meio da aprovação de várias proibições, e os cidadãos estão tomando atitude, com limpezas (de praia) e campanhas massivas. Mas precisamos de mais esforços da indústria para encontrar alternativas inovadoras para o plástico”, acrescentou o dirigente.
Para as espécies raras das Ilhas Galápagos, a cerca de 960 km da costa do Equador, essa é uma questão de vida ou morte.
“Nós vimos pelicanos, iguanas e leões marinhos presos em sacolas, redes e cordas de plástico”, conta Jorge Carrión, diretor do Parque Nacional de Galápagos. “Quando o plástico se decompõe em microplásticos, pode entrar na cadeia alimentar: os peixes o comem e aí o consumo humano pode ser afetado.”
As autoridades das ilhas introduziram leis para proibir itens de plástico descartável, como canudos e sacolas. Voluntários e pescadores ajudaram a limpar praias remotas enquanto serviços de gestão de resíduos foram reforçados.
Muito do lixo que que vai parar nas Galápagos vem de outros países, o que ilustra a necessidade de uma mobilização global contra o plástico descartável.
Do outro lado do mundo, a Índia aderiu à campanha Mares Limpos e sediou o Dia Mundial do Meio Ambiente, em junho passado. O gigante asiático prometeu eliminar todos os plásticos descartáveis até 2022 — uma decisão que pode virar o jogo contra a poluição marinha num país com 1,3 bilhão de habitantes.
Outro pioneiro da luta contra os plásticos é o Quênia, que aderiu à campanha em dezembro de 2017 e também instituiu uma das proibições mais duras às sacolas plásticas.
Outros compromissos notáveis junto à campanha Mares Limpos incluem:
- A Nigéria, o país mais populoso da África e um dos dez mais poluentes do mundo no quesito plástico, comprometeu-se a abrir 26 grandes usinas de reciclagem de plástico.
- A Suécia prometeu cerca de 1 milhão de dólares em apoio ao trabalho da ONU Meio Ambiente sobre lixo plástico marinho.
- Vanuatu, que se uniu à campanha no ano passado, tornou-se o primeiro país do mundo a banir os canudos de plástico, em maio.
- O Panamá proibiu as sacolas de polietileno no início de 2018.
- A Costa Rica adotou uma estratégia nacional para reduzir drasticamente o uso de plásticos descartáveis até 2021.
- Belize, Bahamas, Bermuda e Jamaica adotaram ou estão elaborando legislação para erradicar os plásticos descartáveis.
- Em maio passado, o Chile se tornou o primeiro país sul-americano a aprovar uma proibição de nível nacional contra sacolas de plástico descartáveis. A proibição entrou em vigor nesse ano para os grandes varejistas.
- A Austrália, que aderiu à campanha em outubro, comprometeu-se a garantir que 100% de suas embalagens e empacotamento até 2025 serão reutilizáveis, recicláveis ou poderão ser usadas em compostagem. O país também determinou que embalagens descartáveis desnecessárias serão abandonadas por meio de soluções de design, inovação ou adoção de alternativas.
- O Brasil, membro da campanha desde setembro de 2017, está trabalhando com a ONU Meio Ambiente e parceiros no Plano de Ação Nacional para Combate ao Lixo no Mar. Em novembro passado, foi lançada uma consulta pública sobre o tema.
Autoridades nacionais não são as únicas que estão mostrando liderança. Em agosto, a cidade de Tijuana, no México, tornou-se a primeira cidade do país na fronteira dos EUA a aprovar uma proibição contra sacos plásticos descartáveis. Vários outros estados e municípios, incluindo Querétaro, proibiram as sacolas plásticas, mesmo o México não tendo aderido oficialmente à campanha Mares Limpos.
Indivíduos também podem fazer a diferença: no Quênia, empreendedores e voluntários construíram um dhow, um tipo de veleiro tradicional, a partir de plástico reciclado e de chinelos, a fim de deixar claro como o descarte inadequado do plástico gera desperdício. A inusitada embarcação Flipflopi partiu da ilha de Lamu, em janeiro, e navegou até Zanzibar, fazendo paradas em cidades ao longo do caminho para espalhar a revolução contra os plásticos.
A ONU Meio Ambiente canalizou o poder das redes sociais para encorajar essas ações. Às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente no ano passado, a agência das Nações Unidas encorajou as pessoas a participarem de um jogo global, com o chamado #AcabeComAPoluiçãoPlástica (#BeatPlastiPollution). Os participantes deviam compartilhar nas redes sociais quais itens de plástico eles estavam dispostos a abandonar de vez.
Dando continuidade a essa conversa digital, a ONU Meio Ambiente lançou um curta-metragem para o Dia dos Namorados de 2018, pedindo aos espectadores que “terminassem” seus relacionamentos com o plástico, por meio de atitudes como substituir garrafas e sacolas descartáveis por outras reutilizáveis. O vídeo teve 3,4 milhões de visualizações. Uma sequência foi produzida em dezembro e foi vista 5 milhões de vezes pelos internautas.
A campanha Mares Limpos também lançou um Desafio de Volta às Aulas, junto com o estúdio de animação alemão Kurzgesagt, a fim de encorajar escolas e grupos de jovens a encontrar jeitos criativos de reduzir ou eliminar os plásticos descartáveis. O Kurzgesagt produziu um vídeo explicativo que comparava a tragédia do plástico moderno com a lenda do Rei Midas, que descobre o lado negativo do seu poder de transformar em outro tudo aquilo que toca.
O mundo dos esportes também abraçou a campanha Mares Limpos, transformando uma série de eventos em chamados à ação. Em janeiro, a corrida de Xiamen se tornou a primeira maratona internacional a aderir à campanha Mares Limpos, com os organizadores se comprometendo em reduzir os resíduos plásticos em 60%.
Os organizadores da regata Volvo Ocean Race 2017/18 conseguiram reduzir o uso de plástico em 12 cidades que fizeram parte da corrida e estavam espalhadas pelo seis continentes. A diminuição no consumo foi possível por meio do trabalho com fornecedores e negócios locais para reciclar materiais usados. Pontos de fornecimento de água evitaram o uso de 388 mil garrafas descartáveis. Cerca de 20 mil pessoas aderiram ao compromisso Mares Limpos.
A campanha Mares Limpos participou da regata com a jovem equipe do veleiro Turn the Tide on Plastic, que rodou o mundo junto com a competição. Capitaneada por Briton Dee Caffari, os velejadores também coletaram dados sobre oceanos remotos, medindo, por exemplo, os níveis da poluição por microplástico.
Em agosto do ano passado, o nadador de resistência Lewis Pugh concluiu o seu trajeto épico e recordista pelo Canal da Mancha, a fim de conscientizar as pessoas sobre a necessidade de proteger os nossos oceanos contra ameaças como a poluição plástica, a sobrepesca e as mudanças climáticas.
As empresas também têm um papel a desempenhar, particularmente na liderança de movimentos rumo a uma economia circular, que recuse o modelo “extrair-transformar-descartar”. O crescente clamor público por práticas mais sustentáveis não pode mais ser ignorado e a lógica econômica para justificar a inação está sendo vista cada vez mais como falsa.
Dos inovadores buscando alternativas para o plástico a conglomerados se comprometendo em tornar as suas embalagens mais fáceis de reciclar, a imaginação é o limite. Algumas dessas ideias geniais serão discutidas na quarta Assembleia Ambiental da ONU, no Quênia, em março. O lema do encontro é pensar além dos padrões predominantes e viver dentro dos limites sustentáveis.
A campanha Mares Limpos desencadeou uma revolução global em como vemos e usamos plástico. Mas ainda é preciso fazer mais e o tempo não está do nosso lado. Não tem solução milagrosa e a poluição plástica não pode ser neutralizada apenas por um setor da sociedade ou por um único país.
Para Jorge Carrión, o nosso gigantesco problema de plástico requer ações de todos nós.
“Com frequência, culpamos as empresas e não assumimos a nossa própria responsabilidade em comprar plásticos e, depois, em não reciclá-los”, afirma.
“Essas campanhas (como a Mares Limpos) ajudam a conscientizar as pessoas, mas também é necessário conscientizar os tomadores de decisão para que adotem políticas regionais e setoriais com um alcance maior.”